O ES se destaca no ajuste fiscal realizado pelo governo do estado

A análise das finanças públicas estaduais se mostra especialmente importante no contexto recente da grave crise econômica enfrentada pelo país. É possível afirmar que todos os estados da federação enfrentaram grandes desafios fiscais, e algumas medidas e indicadores como os da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ajudam a analisá-los em perspectiva comparada, observando a evolução nestes últimos anos, as estratégias de gestão adotadas e a condição em que se encontram no momento de saída da recessão.

    A publicação de Sol Garson (2010) denominada “Gestão fiscal do Espírito Santo 2002-2008: pavimentando o caminho para o crescimento da economia estadual” examinou a gestão fiscal do Governo do Estado na maior parte da década de 2000, em um movimento de fortalecimento institucional que foi fundamental para a transformação do Espírito Santo, conforme apontado pelo trabalho de Marta Zorzal e Silva (2010).

    A primeira autora concluiu que, naquele período, o estado teve substancial crescimento das receitas próprias, aliado a uma ampliação controlada das despesas permanentes, o que permitiu redução do endividamento público, aumento dos investimentos e das transferências aos municípios. O estudo especial do Ideies denominado "Gestão fiscal do Governo do Estado do Espírito Santo – 2007 a 2017" retoma a análise feita por Garson, considerando o recorte temporal de 2007 a 2017, e busca reproduzir, sempre que possível, as fontes de dados e metodologias empregadas pela autora em sua publicação original.

No contexto do trabalho de fortalecimento institucional iniciado em 2003, o Espírito Santo evoluiu significativamente na sua capacidade de geração de receita no período analisado. Houve percalços de quedas da receita em 2009 e 2013, mas revertidos nos anos seguintes, enquanto, a partir de 2015, a crise econômica impactou as finanças estaduais de maneira mais duradoura.

Em relação aos gastos públicos, os números mostram que o estado teve uma trajetória de permanente alta entre 2003 e 2014, o que teve a ver com o fortalecimento e ampliação de serviços públicos. Essa trajetória das despesas precisou sofrer uma reversão a partir de 2015, para responder de maneira adequada à redução das receitas. A estrutura de despesas permanentes começou a ser revista, inclusive com redução do número de funcionários públicos, além de forte retração nos investimentos.

Principais avanços sociais do Espírito Santo no período:

Redução da taxa de homicídios em -37,2% entre 2006 e 2016, enquanto a taxa nacional teve alta de 14,0%;

Aumento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para o ensino médio da rede estadual de ensino de 3,1 em 2005 para 4,1 em 2017; melhor desempenho entre os estados no Pisa (2015) e Prova Brasil (2017);

Menor taxa de mortalidade infantil do país e 2ª maior expectativa de vida ao nascer (2017).

O ajuste fiscal iniciado em 2015 evidenciou pontos importantes da administração pública estadual, como a grave situação da Previdência Social – problema que também atinge o país. A recuperação da economia iniciada em 2017, que já impactou em ligeira recuperação da arrecadação, não deverá, no entanto, ser suficiente para possibilitar a total recuperação dos níveis de investimentos pré recessão, ao menos no curto prazo. 

Ao final da grave recessão que atingiu a economia brasileira em 2015 e 2016, causando imensas dificuldades para os estados, o Espírito Santo emergiu como exemplo nacional por ter sido capaz de realizar uma gestão fiscal responsável e eficiente, corroborada pela nota máxima – a única dentre as 27 unidades da federação - recebida na avaliação do Tesouro Nacional referente às contas de 2017. Foi um bom recomeço diante dos desafios postos, para hoje e para futuro próximo, que já mostraram serem muito relevantes e nada triviais.

Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria

Rodrigo Taveira

Economista (UFES) e Mestre em Administração Pública e Governo (FGV-SP). Atua como Analista de Estudos e Pesquisa Sênior na Gerência de Estudos Econômicos, com foco em estudos sobre conjuntura econômica, finanças públicas e crédito.